Desde que a campanha eleitoral começou, percebo um movimento social sendo deturpado.
Aqui, cabe um parêntese: estou na Alemanha, não estou assistindo horário eleitoral e não poderei votar nessa eleição, pois não pude fazer a trasnferência do título no prazo estipulado. Não estou defendendo nenhum candidato, apenas faço algumas observações em relação a como a históira está sendo usada em função desse momento nacional.
Em 64, com o golpe militar, foi instaurada a ditadura. Recentemente, tentaram, inclusive, mudar o termo para “ditabranda”, ainda bem que não conseguiram. Posso dizer, sem muita certeza, que até o movimento do “Diretas já”, entre 83 e 84, e a aprovação da nova Constituição em 88, a ditadura estava presente no país.
Nesse período, poucos foram as pessoas que tiveram coragem e capacidade de enfrentar os militares. Na época, foram entitulados “guerrilheiros”. Muitos foram presos, mortos ou exilados. Dependia muito do “crime” ou da influência que tinham.
O que importa é que foram os únicos que se rebelaram contra uma ditadura. (O resto do povo ou não tinha consciência real do que acontecia, ou não tinha coragem de levantar a voz, ou, simplesmente, era condizente com o processo de “prisão” pelo qual o país passava.) Foram os únicos que lutaram por uma democracia, por uma país de ideias livres. Eles lutaram com as armas que tinham. Afinal, como lutar contra um exército inteiro? Seja escrevendo críticas em jornais, músicas para festivais, realizando passeatas e comícios, cometendo “crimes” etc. Era desse jeito que se podia protestar, radical ou não.
Mas as pessoas esquecem – ou nunca aprenderam, que a ditadura também cometeu muitos crimes contra a sociedade: tirando sua liberdade de expressão, prendendo inocentes, torturando, sequestrando e matando gente…
E hoje, estou assitindo a história mudar. Os únicos brasileiros corajosos, pensadores e intelectuais, que tiveram coragem de lutar por um país, estão sendo rotulados de criminosos, terroristas. Porque é conveniente não tratar a história. Porque é conveniente fazer com que uma nação não saiba reconhecer heróis e, por isso, transferem a sua energia para ídolos mau construídos do futebol e da música.
Uma nação sem consciência crítica que transforma pessoas, que ora foram “rebeldes com causa”, inconformados, questionadores, em terroristas. Que escutam uma “verdade” através da mídia que um dia foi financiada pela ditadura e tomam-na como verdade absoluta, tornando-a parte do consciente coletivo brasileiro.
Não me interessa se Dilma, Lula, FHC, Cristovão Buarque, Gabeira, Gilberto Gil, Geraldo Vandré, José ou Luís. Preso ou exilado, torturado, morto ou desaparecido. O que importa é que, para a história que eles gostariam de ter escrito, eles não são terroristas.
São mais brasileiros do que eu.
“É uma pena que sejam os vencedores a escrever a história.”